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Mostrando postagens de julho 17, 2025

Conto 6 – A Rebelião dos Sem Rumo

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Se você acha que a morte é o fim, está enganado. Se acredita que depois dela vem paz, luz ou um descanso merecido, está ainda mais enganado. Aqui não tem harpa, nem anjo, nem calmaria eterna. O que existe é poeira vibracional, gritos abafados e um sistema tão injusto quanto o da Terra. Um espelho sombrio da realidade intrafísica, onde as estruturas de poder se reproduzem com a mesma ferocidade. Aqui é o mundo além. Cão. Literalmente. Bardo nunca foi um nome. Foi uma cicatriz. Na Terra, nasceu sem saber de quem. Jogaram ele num orfanato sujo, onde o café era fraco, as palmadas eram fortes e o amor, um conceito mitológico. Foi adotado por um casal de religiosos que tratava a "salvação" à base de cintadas e jejum. Apanhava por sorrir, por respirar, por existir. — A graça de Deus não é de graça, moleque! — vociferava o pai adotivo, com a cinta em mãos. Cresceu aprendendo que quem apanha demais aprende a bater. E ele bateu. Na escola, na rua, na vida. Foi empurrado para as drogas ...

Conto 5 - A morte sobre duas rodas

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O ronco do motor cortava a noite como navalha. Chuva leve, pista molhada, e o velocímetro sorrindo feito psicopata. — Amor, devagar... — disse Júlia, com aquele jeito de “fala sério, mas não briga”. — Tamo vivos, né? Então vamo viver — respondeu Ricardo, mais interessado em parecer invencível do que em chegar inteiro. Dois segundos depois: o impacto. A curva não perdoou. Nem o poste. Nem o asfalto. Tudo ficou escuro. Mas só por alguns instantes. Ricardo abriu os olhos no acostamento. Sentia o cheiro de borracha queimada, a eletricidade no ar. Viu a moto, o caos. E então viu a si mesmo. — Tá de brincadeira — murmurou. Júlia também estava ali, de pé, olhando a própria cabeça sangrando no chão como quem vê um documento extraviado. — A gente morreu, né? — ela perguntou. — É... parece que sim. — Que bosta. Foram ao velório. Gente chorando, flores desorganizadas, playlist evangélica mal escolhida. Os amigos falaram bonito. Os tios disseram que foi “Deus que quis”. E a mãe dela desabou nos br...

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